A distribuição geográfica da Toninha e sua influência na conservação
- GEAS UFMG
- 19 de jul. de 2021
- 4 min de leitura
A Toninha, Pontoporia blainvillei, é um pequeno cetáceo da subordem Odontoceti e da família Pontoporiidae. Possui outros nomes populares, como manico, franciscana, boto-garrafa e boto-cachimbo, aos quais são empregados ao longo da distribuição do animal no Brasil. Sua ocorrência se dá desde Itaúnas (Espírito Santo) até o Golfo San Matias (Argentina), em que regiões estuarinas e costeiras de até 50 m de profundidade constituem em seu habitat preferencial – apesar de terem sido registradas, em sua maioria, em águas mais rasas de até 30 m (Pinedo et al., 1989; Di Beneditto e Ramos, 2001). Porém, em sua distribuição geográfica, existem dois hiatos em regiões dos estados do Espírito Santo, Rio de Janeiro e São Paulo decorrentes, possivelmente, da temperatura, profundidade e transparência da água. Por muito tempo a espécie foi classificada como “Dados Deficientes” no Livro Vermelho da União Mundial para Conservação até que, em 2008, foi alterada como “Vulnerável”. Atualmente, está incluída na Lista Nacional das Espécies da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção.
Para ter conhecimento de como a população de toninhas está estruturada, foram definidas unidades de manejos a serem consideradas em Planos de Conservação, e, assim, melhor entendimento do status de conservação da espécie e da estimativa das tendências populacionais futuras. Dessa forma, as Áreas de Manejo da Toninha (FMAs – Franciscana Management Areas) foram definidas em quatro regiões. A FMA I abrange Espírito Santo e Norte do Rio de Janeiro, FMA II São Paulo e Santa Catarina, FMA III Rio Grande do Sul e Uruguai e FMA IV Argentina. A partir disso, o tamanho populacional de toninhas foi estimada em 42.078 indivíduos, apesar de não existir estimativa de abundância em toda sua distribuição, havendo apenas na Área de Manejo II em que os dados obtidos em tal região foram extrapolados e interpretados com cautela para uma densidade total de animais.
Levando em consideração os dados de abundância desses cetáceos, existem evidências que sugerem que a população no sul (FMA III + FMA IV) seja mais abundante que no norte. Esse especulação se dá devido aos fatores: maiores taxas de óbitos desses animais em monitoramentos sistemáticos de praia são maiores ao sul (e.g. Pinedo e Polacheck, 1999; Danilewicz, 2007); ao norte existem maior quantidade de espécies de delfinídeos (como o boto-cinza, golfinho-pintado-do-Atlântico, golfinho-comum, golfinho-nariz-de-garrafa e golfinho-de-dentes-rugosos) o que influencia na sobrevivência de toninhas com competição por habitat e presas, além de uma menor plataforma continental; os índices de abundância relativa são maiores ao sul, de acordo com dados de captura por unidade de esforço pesqueiro (CPUE). Além disso, não existem evidências que a Toninha apresente padrão migratório.
Pontoporia blainvillei possui um dos menores ciclos de vida entre os cetáceos. A maturidade sexual, atingida entre dois e cinco anos de idade, resulta no dimorfismo sexual reverso, em que as fêmeas são maiores que os machos, e o comprimento também varia de acordo com a distribuição geográfica da espécie. Um filhote é gerado a cada um ou dois anos, com período de gestação de onze meses e tempo de lactação até nove meses. A partir de dois ou três meses de idade e por volta de oitenta centímetros de comprimento, os filhotes começam a ingerir alimento sólido, como camarões. A dieta dos animais adultos consiste em peixes ósseos e lulas das regiões estuarinas e costeiras que habitam.
Ademais, é considerado que a Toninha apresenta baixo potencial para crescimento populacional anual, mesmo com variações regionais nos parâmetros vitais (taxa de sobrevivência, fecundidade, estimativa de abundância) e com as incertezas de estimativas da quantidade de indivíduos. A espécie possui baixa capacidade de reposição da parcela da população que é removida em capturas acidentais, como redes de pesca, ou outras fones de mortalidade não natural. Dessa maneira, as principais ameaças à espécie consistem na pressão por atividades de pesca em regiões costeiras aliada à limitação da espécie quanto ao habitat preferencial e às características do seu ciclo de vida. Além disso, a fragmentação ambiental em áreas costeiras e estuarinas, poluição por plásticos e ingestão de resíduos, poluição química, depleção dos estoques pesqueiros e variação temporal na dieta também possuem grande impacto nas populações desses cetáceos.
Com isso, é de extrema importância a implementação de estratégias e políticas públicas nacionais e internacionais para a conservação da espécie. O incentivo de uso de equipamentos que reduzam capturas acidentais, com subsídios à implementação de tecnologias pesqueiras não-predatórias para a espécie, valorização do preço do pescado capturado a partir dessas tecnologias, capacitação profissional dos pescadores para o desenvolvimento de outras atividades geradoras de renda (como ecoturismo) e aproveitamento de subprodutos da pesca e cultivos são alternativas que mitigam os impactos das pescarias sobre a Toninha. Por fim, existe o Plano de Ação Nacional para Conservação da Toninha - PAN Toninha tem como objetivo geral evitar o declínio populacional da toninha em todas as áreas de manejo, em especial por meio da redução das capturas incidentais e da proteção do habitat.
Autora: Débora Mueller

Referências Bibliográficas
INSTITUTO CHICO MENDES DA BIODIVERSIDADE. PLANO DE AÇÃO NACIONAL PARA A CONSERVAÇÃO DO PEQUENO CETÁCEO TONINHA Pontoporia blainvillei SÉRIE ESPÉCIES AMEAÇADAS Nº 10. Brasília: [s.n.], 2010.
INSTITUTO CHICO MENDES DA BIODIVERSIDADE. Plano de Ação Nacional para Conservação da Toninha. Site do Instituto Chico Mendes da Biodiversidade. Disponivel em: <https://www.icmbio.gov.br/portal/faunabrasileira/plano-de-acao-nacional-lista/147-plano-de-acao-nacional-para-conservacao-da-toninha>. Acesso em: 12 Julho 2021.
PRADO, J. H. F. BIOLOGIA E CONSERVAÇÃO DA TONINHA (Pontoporia blainvillei). Instituto Chico Mendes da Biodiversidade.
Comments