Por: Amanda de Castro Souza
O urso-de-óculos, cientificamente conhecido como Tremarctos ornatus, é o único representante da família Ursidae na América do Sul, sendo também o último componente da subfamília Tremarctinae. Seus espécimes estão distribuídos em quase toda a Cordilheira dos Andes, sendo encontrados em florestas úmidas de montanha desde a Venezuela até a fronteira entre Argentina e Bolívia, percorrendo países como Peru, Bolívia e Equador. Acredita-se também que exista uma pequena população no Panamá e no noroeste da Argentina. Os ursos dessa espécie possuem um corpo maciço com peito musculoso, patas dianteiras maiores que as traseiras, garras fortes, curvadas e não retráteis, além de um focinho mais curto do que o visto no restante dos ursídeos. Possuem orelhas pequenas e arredondadas e são frequentemente reconhecidos pela presença de manchas ao redor dos olhos, no queixo, na garganta e no peito, que podem variar do branco ao amarelo. Assim como os padrões de manchas da onça-pintada, por exemplo, a distribuição desses padrões fenotípicos nos ursos-de-óculos podem diferenciar um indivíduo do outro. As fêmeas possuem até 80 kg e medem cerca de 1,5m, enquanto os machos podem chegar a 170 kg e 1,8m.
São ursos onívoros com uma tendência herbívora, se alimentando majoritariamente de cactos, bromélias, nozes de palmeiras, bambus, orquídeas, frutas e folhas de palmeiras não abertas, também sendo capazes de arrancar cascas de árvores em busca de larvas de insetos. Menos frequentemente, se alimentam de pequenos roedores e pássaros. Curiosamente, durante a época de amadurecimento das frutas os casais atingem o pico de atividade reprodutiva, entre abril e junho, embora possam se reproduzir em todas as épocas do ano. Os casais permanecem juntos por duas semanas e podem se acasalar diversas vezes, e os filhotes (1 a 3 por gestação) nascem entre dezembro e fevereiro, após cerca de 7 meses de gestação na estação seca, permanecendo com a mãe por cerca de um ano até estarem prontos para se alimentarem e sobreviverem sozinhos. Os indivíduos atingem a maturidade sexual entre os 4 e os 7 anos de vida. Os períodos de acasalamento e nascimento dos filhotes constituem as circunstâncias em que se pode observar esses animais em grupo, uma vez que são tipicamente solitários.
Os ursos dessa espécie são excelentes escaladores de árvores, tendo o costume de construir ninhos para se alimentarem e repousarem, além de serem excepcionais nadadores. Possuem hábitos diurnos, podendo também apresentar certa atividade noturna, e não costumam se aproximar de humanos, a não ser que se sintam ameaçados ou que se trate de uma mãe protegendo seus filhotes. Os machos possuem um território amplo de cerca de 23 quilômetros, e as fêmeas dominam um espaço de cerca de 10 quilômetros.
A importância dos indivíduos dessa espécie no ecossistema é muito ampla. São excelentes dispersores dos mais variados tipos de sementes e contribuem para o desenvolvimento do sub-bosque, uma vez que rompem as ramas da parte superior das árvores, permitindo que a luz solar atinja os estratos mais baixos da vegetação. O Tremarctos ornatus também é considerado uma “espécie guarda-chuva”, isto é, são excelentes indicadores da qualidade do meio ambiente. Apesar disso, devido principalmente à grande invasão de habitat para atividade agrícola e plantações de coca, além da caça predatória pautada na crença popular de propriedades medicinais de alguns de seus órgãos, a espécie é considerada vulnerável pela União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN) e sua população é decrescente. Esforços para sua conservação vêm sendo realizados em todo o mundo através de um programa internacional, com destaque no Brasil para o Jardim Zoológico de Brasília, que possui um casal simpático de ursos-de-óculos: Liz e Ney.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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