A urgência na conservação da Pardela de Asa Larga no Brasil
- GEAS UFMG
- 30 de ago. de 2021
- 3 min de leitura

Por: Luiza Esteves Silva
A Pardela de Asa Larga é cientificamente denominada de Puffinus lherminieri. A palavra “Puffin” se refere a carne gordurosa de aves que eram consideradas iguarias inglesas no século XVIII. Pesando de 150 a 230 gramas e medindo de 27 a 33 centímetros, a espécie é um petrel pequeno que possui o dorso marrom escuro e o ventre e peito branco, incluindo a face interior das asas e ao redor dos olhos. Seu bico é longo e tem coloração cinza escuro com a ponta preta. Ela ocorre nas Bermudas, Caribe, Ilhas Galápagos, Oceano Pacífico e Índico, Mar da Arábia e Brasil, no litoral sudeste e nordeste. No caribe, a subespécie Puffinus lherminieri lherminieri nidifica em diversos locais, como Bahamas, Jamaica, Antilhas, Grenadinas, Bermuda e Tobago. No Atlântico Sul, poucos subfósseis e aves vivas foram registradas nas ilhas de Ascenção e de Santa Helena, respectivamente. Entretanto, foram encontrados muitos restos de subfóssies, possibilitando inferência da extinção da espécie no local após a colonização humana. No Brasil, atualmente se reproduz somente em duas ilhas de Fernando de Noronha, Morro do Leão e Morro da Viuvinha, pois foi detectado que a população reprodutiva do Espírito Santo, nas ilhas Itatiaia, não se reproduz há mais de 10 anos.
As aves podem ser encontradas sozinhas ou aos pares, sendo possível também a formação de grupos dispersos. As fêmeas nidificam em cavidades naturais rochosas no território brasileiro, mas em outros locais, também pode cavar seu próprio buraco, onde incuba seu único ovo por 49-50 dias. Os filhotes nascem em outubro, cobertos por penugem cinza, ficando sozinhos no ninho durante o dia e sendo alimentados no período da noite, apenas. Eles deixam o ninho cerca de 62 a 75 dias após seu nascimento, atingindo a maturidade sexual com aproximadamente 8 anos de vida.
Existem poucas informações acerca dos seus hábitos alimentares, porém sua dieta inclui crustáceos, larvas de peixes planctônicos e peixes-voadores em voo. Elas capturam suas presas mergulhando e perseguindo-as sob a água. A subespécie Puffinus lherminieri nicolae, por exemplo, localizada nas Ilhas Seychelles, no Oceano Índico, pode mergulhar até 15 m de profundidade para apreender seu alimento.
A espécie é classificada como “Pouco Preocupante” segundo a União Internacional para a Conservação da Natureza (Internaciona Union for Conservation of Nature – IUCN). No entanto, no Brasil, desde 2003, foi declarada pelo Ministério do Meio Ambiente como “Criticamente em perigo”. Conforme o monitoramento realizado nas ilhas de nidificação localizadas em Fernando de Noronha, observou-se a existência de 30 indivíduos maduros no país e ausência aparente de aporte de indivíduos de populações estrangeiras. Além disso, predadores introduzidos, como ratos, gatos, cães e teiús dificultam a ocupação da ilha principal do arquipélago pelas Pardelas-de-asa-larga. Na Ilha do Morro, devido a sua proximidade a praia, confere risco a população, pois está sujeita a invasão de ratos que poderiam dizimar as aves que nidificam no local.
Após adotar o Plano de Ação Internacional para Redução de Captura Incidental de Aves Marinhas na Pesca (1997), o Brasil desenvolveu, em 2006 o Plano De Ação Nacional para a Conservação de Albatrozes e Petréis (Planacap). Esse projeto visava, incialmente, adoção de políticas públicas e ações de educação ambiental e pesquisa a respeito desse grupo de animais. Em 2017, também inclui a proteção dos locais de reprodução de aves oceânicas, focando-se, desde 2018, exclusivamente, na conservação de espécies de albatrozes e petréis que ocorrem no litoral do Brasil. A partir disso, o Projeto Albatroz objetiva monitor e mitigar fatores patológicos, poluição, e modalidades de pesca.
Infelizmente, são poucos os projetos de pesquisa realizados para se obter informações acerca de seus hábitos e biologia, no geral. Entanto, diante de sua status de conservação no Brasil, é fundamental que sejam realizados mais estudos voltados para a preservação da população remanescente. O declínio reprodutivo da ave no país é evidente, tendo cessado no Espírito Santo e contando com poucos remanescentes em Fernando de Noronha, demonstrando a urgência de se interferir com unidades de conservação e mais estudos sobre a reprodução para conservação da espécie. Assim como diversas outras aves, ela contribui não só para biodiversidade brasileira, mas também com a manutenção do equilíbrio trófico dos ecossistemas nos quais está inserida, podendo acarretar severos prejuízos, sejam esses a longo, médio ou curto prazo.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
Pardela-de-asa-larga (Puffinus lherminieri) WIKIAVES. Disponível em: <https://www.wikiaves.com.br/wiki/pardela-de-asa-larga> Acesso em: 02 de agosto de 2021.
Aves - Puffinus lherminieri Lesson, 1839 - Pardela-de-asa-larga. ICMBio – Ministério do Meio Ambiente. Disponível em < https://www.icmbio.gov.br/portal/faunabrasileira?id=5687:especie-5687> Acesso em: 02 de agosto de 2021.
Destaque - Pardela de asa-larga. ICMBio – Ministério do Meio Ambiente. Disponível em < https://www.icmbio.gov.br/portal/videos/28-fauna-brasileira/especies-ameacadas/762-destaque-pardela-de-asa-larga > Acesso em: 02 de agosto de 2021.
MERLIM. Pardela-de-asa-larga. Ebird. Diposnível em <https://ebird.org/species/audshe?siteLanguage=pt_BR> Acesso em: 02 de agosto de 2021.
NEVES, Tatiana. Plano de ação nacional para a conservação de albatrozes e petréis:(Planacap). IBAMA, MMA, 2006.
PLANACAP - Plano de Ação Nacional para a Conservação de Albatrozes e Petréis. Políticas Públicas – PLANACAP. Disponível em < https://projetoalbatroz.org.br/politicas-publicas/planacap> Acesso em: 02 de agosto de 2021.
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