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Um pouco sobre o universo das tartarugas marinhas: a importância da tartaruga-verde

Autora: Débora Mueller

Pertencentes à linhagem mais antiga de répteis vivos, as tartarugas marinhas consistem em seres vivos únicos e de extrema importância para o ecossistema oceânico. Adaptações evolutivas ocorreram ao longo de milhões de anos permitindo a sobrevivência e adaptação das tartarugas em diferentes ambientes. A quantidade de vértebras foram reduzidas e se fusionaram com as costelas, formando uma carapaça de revestimento córneo com características que auxiliam na locomoção e hidrodinâmica, com carapaças mais leves e achatadas, nadadeiras no lugar de patas e glândulas de sal localizadas próximas aos olhos.

Especificamente sobre as tartarugas marinhas, esses indivíduos possuem grande capacidade de permanência debaixo d’água por serem seres pulmonados com eficiente distribuição de oxigênio pelo corpo, baixo nível metabólico e possibilidade de realizarem a troca gasosa em outros órgãos, como a cloaca e a faringe. Além disso, possuem visão, olfato e audição desenvolvidos e ótima capacidade de orientação: realizam migrações entre as áreas de alimentação, repouso e reprodução, retornando para essas mesmas áreas por terem alta filopatria, ou seja, capacidade das fêmeas de voltarem para se reproduzir no local em que nasceram, sendo quase impossível a recolonização das praias por fêmeas oriundas de outras populações.

Outro fato interessante – e que pode trazer malefícios para as espécies devido ao aquecimento global – é a temperatura influenciar diretamente na determinação do sexo, no nascimento e crescimento dos filhotes, na atividade no interior do ninho, no tempo de incubação dos ovos, na hibernação, na distribuição geográfica, entre outros fatores (Mrosovsky, 1994). Com isso, a proporção de sexos entre os filhotes depende da temperatura na qual os ovos são incubados, em que temperaturas mais altas produzem fêmeas e mais baixas, machos (Marcovaldi et al., 1997). Porém, temperaturas extremas afetam o desenvolvimento do embrião e, consequentemente, o sucesso reprodutivo, assim como ovos incubados a temperaturas menores que 22°C no último terço do período de incubação raramente eclodem (Miller et al., 2003). Assim, a tendência de aumento de temperatura global pode aumentar o número de fêmeas produzidas, tornando mais rara à presença de machos e podendo inviabilizar o desenvolvimento dos embriões, dentre outras interferências (Ackerman, 1997).

A tartaruga-verde, Chelonia mydas, é a espécie de distribuição cosmopolita que apresenta os hábitos mais costeiros, com ocorrências não reprodutivas registradas ao longo de toda a costa brasileira, sendo altamente migratória, com ciclo de vida longo e maturação sexual entre 26 e 40 anos. A população brasileira desta espécie está isolada, ou seja, não há possibilidade de migração de adultos de outras regiões para o Brasil. Além disso, a dieta é variada durante o ciclo de vida, sendo onívora com tendências carnívoras quando filhote e tornando-se preferencialmente herbívora a partir dos 25 cm de casco. Ademais, as desovas são feitas principalmente nas ilhas oceânicas: Ilha da Trindade (ES), Atol das Rocas (RN) e Fernando de Noronha (PE), e, por essas áreas não estarem sujeitas à ocupação desordenada da zona costeira, C. mydas é a espécie que menos sofre impacto de predação sobre ovos e fêmeas. Entretanto, apresenta maior quantidade de indivíduos juvenis mortos encalhados decorrente do aumento da pesca costeira de emalhe.

A ingestão de resíduos, em especial os plásticos, é apontado como uma das principais ameaças às tartarugas marinhas, além de, em menor escala, terem sua carne consumida e seu casco comercializado como adorno. Somado a isso, a maturação tardia e o ciclo de vida longo tornam a recuperação da espécie muito lenta. É possível que os números de desovas observados não se mantenham no futuro, devido às atuais ameaças sobre a quantidade de juvenis a serem recrutados para a população reprodutiva. Os estudos de tendência de população também não cobrem um tempo geracional para este táxon. Dessa maneira, a tartaruga-verde é classificada como Vulnerável segundo a classificação do MMA e Em Perigo de acordo com a IUCN. Com isso, o Projeto Tamar é responsável pelo Plano de Ação Nacional para Conservação das Tartarugas Marinhas, em que foi criado com objetivo manter a tendência de recuperação das populações de tartarugas marinhas que ocorrem no Brasil, por meio do aprimoramento das ações de conservação, pesquisa, fortalecimento institucional e envolvimento da sociedade.


Referências

FUNDAÇÃO PROJETO TAMAR. Tartaruga-verde ou Tartaruga-aruanã. Site da Fundação Projeto Tamar, 2011. Disponivel em: <https://www.tamar.org.br/tartaruga.php?cod=20>. Acesso em: 25 Outubro 2021.


INSTITUTO CHICO MENDES DA BIODIVERSIDADE. PLANO DE AÇÃO NACIONAL PARA CONSERVAÇÃO DAS TARTARUGAS MARINHAS. Brasília: [s.n.], 2011.


INSTITUTO CHICO MENDES DE CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE. Plano de Ação Nacional para Conservação das Tartarugas Marinhas. Site do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, 2021. Disponivel em: <https://www.icmbio.gov.br/portal/faunabrasileira/plano-de-acao-nacional-lista/841-plano-de-acao-nacional-para-a-conservacao-das-tartarugas-marinhas>. Acesso em: 25 Outubro 2021.


INSTITUTO CHICO MENDES DE CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE. Répteis - Chelonia mydas (Linnaeus, 1758) - Tartaruga-verde. Site do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. Disponivel em: <https://www.icmbio.gov.br/portal/faunabrasileira?id=6611:especie-6611>. Acesso em: 25 Outubro 2021.



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