Cachorro Vinagre: um carnívoro social
- GEAS UFMG
- 16 de ago. de 2021
- 3 min de leitura
Por: Luiza Esteves Silva

O Cachorro vinagre, cientificamente conhecido como Speothos venaticus, é um canídeo de pequeno porte. Seus caninos são longos, proeminentes e pontiagudos e suas unhas não são retráteis. Com um peso que varia de 5 a 8kg, sua pelagem é vermelho-acinzentada na região dorsal enquanto a cabeça pode ter uma coloração mais amarelada. A espécie ocorre do Panamá até o extremo nordeste da Argentina, distribuindo-se em todos os países intermediários a essa faixa, exceto a leste da cordilheira andina na Colômbia. Apesar da ampla distribuição, são raros ao longo dos locais de ocorrência, sendo encontrados em habitat generalista, associados especialmente a ambientes florestais e cursos d’água. Seu corpo é extremamente adaptado a esse tipo de ambiente, sendo esse compacto, com pernas curtas e robustas, possuindo também membranas interdigitais. No entanto, observou-se no Pantanal, que os animais se dispersaram conforme a disponibilidade de habitat, sem predileção por nenhuma vegetação. Sua distribuição está reduzida em relação aos dados históricos, como por exemplo sua ausência na Amazônia central, onde era previamente relatada sendo a região norte um dos locais de ampla distribuição, principalmente nos estados do Amapá, Pará, Maranhão e Tocantins.
São animais principalmente diurnos, dormindo em tocas, e com área de vida estimada de 140km², usando a urina para demarcação territorial em árvores ou pedras. Ainda que possam ser vistos sozinhos, normalmente os cachorros-vinagre vivem em grupos de 2 a 12 indivíduos e possui amplo repertório vocal, utilizando-o para chamados de contato em pequenas distâncias para sua movimentação em locais associados a água e com visibilidade restrita. No entanto, no Cerrado há relatos da diminuição da quantidade de animais por grupo devido a ataques de moradores e cães domésticos. Suas membranas digitais o auxiliam para escavar substrato para acessar suas presas, sendo uma espécie exclusivamente carnívora. Diferentemente de outros canídeos brasileiros, vivem e caçam em grupos familiares de um casal com crias de até três gerações.
Se alimenta principalmente da paca (Agouti paca) e de outros roedores de médio porte como cutias, podendo predar também gambás, coelhos, lagartos teiú, quatis, cobras e aves terrestres. Entretanto, no Pantanal e Cerrado, sua dieta é baseada principalmente no tatu-galinha (Dsypus novemcintus), ao entrarem e/ou escavarem as suas tocas durante a predação. Quando caçam em bandos, podem atingir presar maiores como capivaras, emas, veados e catetos, atacando-os nas pernas até sua queda. Eles se reproduzem durante o ano todo, e, durante esse período, há a separação do macho e da fêmea do restante do grupo. Com ninhadas de um a seis filhotes, a gestação possui uma média de 67 dias, variando de 60 a 83 dias. Ambos os sexos se dedicam ao cuidado parental e indivíduos jovens que não se separam dos pais após a maturidade sexual não se reproduzem, principalmente fêmeas, pois pode haver supressão reprodutiva na presença da mãe. No entanto, os machos tendem a se dispersar ao se tornar adultos.
Segundo a IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza) a espécie é considerada “Quase ameaçada”, mas no brasil, conforme a lista nacional do ICMBio, é relatada como “Vulnerável”. É ameaçado principalmente pelo desmatamento, extração de madeira, atropelamentos e aumento da densidade demográfica humana. Tais fatores prejudicam diretamente a espécie e indiretamente, uma vez que também afetam suas presas, causando sua diminuição nos ecossistemas. Além disso, as doenças adquiridas de animais domésticos como raiva, parvovirose, cinomose e sarna sarcóptica também são desafios enfrentados por esses animais.
Apesar de ser um mamífero raro, não existem projetos específicos voltados a conservação da espécie. Em estudos feitos na Amazônia, verificou-se que esses animais necessitam de grandes áreas florestais para sua viabilidade, superior a dez mil hectares. Dessa forma, com sua dependência de florestas contínuas, é fundamental intensificar-se unidades de conservação e proteção desses animais e das suas regiões de ocorrência para desacelerar os impactos causados pela perda de habitat. A adoção de estratégias preventivas e preservacionistas, bem como o estudo acerca de sua biologia e fomento a educação ambiental, é essencial para manutenção das populações existentes e evitar o agravamento do seu status de conservação.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
CUBAS, Zalmir Silvino; SILVA, Jean Carlos Ramos; CATÃO-DIAS, José Luiz. Tratado de Animais Selvagens. 2a edição. São Paulo. Roca, volumes I e II. 2014.
JORGE, Rodrigo Pinto Silva et al. Avaliação do risco de extinção do cachorro-vinagre Speothos venaticus (Lund, 1842) no Brasil. Biodiversidade Brasileira-BioBrasil, n. 1, p. 179-190, 2013.
Cachorro-vinagre (Speothos venaticus). Nossa Fauna – ONÇAFARI. Disponível em < https://oncafari.org/especie_fauna/cachorro-vinagre/> Acesso em: 28 de julho de 2021.
Cachorro-vinagre (Speothos venaticus). Canídeos – PROCARNIVOROS. Disponível em < https://procarnivoros.org.br/animais/cachorro-vinagre/> Acesso em: 28 de julho de 2021.
FERRONI, Leticya de Oliveira. CINOMOSE CANINA EM CARNÍVOROS SILVESTRES E EXÓTICOS: revisão de literatura. Centro Universitário Sul de Minas. 2021.
JORGE, Rodrigo Pinto Silva et al. Avaliação do risco de extinção do cachorro-vinagre Speothos venaticus (Lund, 1842) no Brasil. Biodiversidade Brasileira-BioBrasil, n. 1, p. 179-190, 2013.
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