Acordando os prédios

O sabiá-laranjeira (Turdus rufiventris) é uma ave popular conhecida por diversos outros nomes e citada por diversos poetas como o pássaro que canta na estação do amor, ou seja, na primavera. Entre as homenagens de Guimarães Rosa, Carlos Drummond de Andrade, Tom Jobim e Chico Buarque, há uma que foi imortalizada: “Minha terra tem palmeiras, onde canta o sabiá”.

A peculiar espécie divide o nome com outros 11 “Sabiás”, nome este que em tupi significa “aquele que reza muito'', em referência ao seu canto. Já em latim, Turdus rufiventris, caracteriza sua aparência: Tordo com a barriga castanha. Portanto, sua plumagem é parda, com exceção da região do ventre, destacada pela cor vermelho-ferrugem, levemente alaranjada, e bico amarelo-escuro. Apresenta anel ocular amarelo vivo e garganta clara e escura estriada. Entre suas características físicas, pode medir até 25 centímetros de comprimento e a fêmea, com seus 80 gramas, é ligeiramente mais pesada que o macho.

O pássaro se alimenta de insetos, larvas, minhocas, frutas maduras e também come coquinhos de várias espécies de palmeiras. Entre setembro e janeiro, as fêmeas constroem os ninhos de graveto e incubam, por 13 dias, os ovos de coloração verde-azulada com pintas de cor ferrugem. A alimentação e o cuidado dos filhotes, bem como a higiene do ninho é efetuada em conjunto pelo casal.

Em 2013, um fato curioso tomou conta de São Paulo: os sabiás começaram a cantar às 3 horas da manhã. Ocorrido o fato, cientistas voluntários se juntaram para entender o fenômeno observado somente na grande metrópole da América Latina. O que estaria acontecendo com a biologia e comportamento dessas populações que os fizeram aumentar o volume e a frequência do canto enquanto a cidade ainda descansava? E a resposta estava no silêncio, pois somente nele a espécie encontra condição de se comunicar, ouvir e ser ouvido. O sabiá-laranjeira tem forte característica territorial: demarca uma área geográfica quando está em processo de reprodução através do canto, e é no entardecer, mas principalmente, no alvorecer que ele começa a cantar.

Atualmente o Status de Conservação (MMA) da espécie é pouco preocupante, todavia, esse caso, traz à tona o impacto que ações antrópicas causam ao comportamento das espécies mesmo quando estas não implicam diretamente na redução da população. O “Hora do Sabiá” é um projeto de monitoramento a longo prazo, que age em prol da conservação da espécie, acompanhando de perto as possíveis mudanças nos hábitos dessas aves que são símbolo do Brasil. O projeto conta com a ciência cidadã e disponibiliza no site (www.horadosabia.com) um formulário para que você possa encaminhar suas observações dos sabiás que cantam na sua janela!

Autora: Janaina Duarte

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

SANDRO VON MATTER. A incrível insônia do Sabiá-laranjeira. Conexão Planeta, 2015. Disponível em: <https://conexaoplaneta.com.br/blog/a-incrivel-insonia-do-sabia-laranjeira/#fechar>. Acesso em 9 nov. 2021.

CLEMENTS, J. F.; The Clements Checklist of Birds of the World. Cornell: Cornell University Press, 2014.

FERNANDO PRADO. Sabiá-laranjeira. WIKIAves, 2011. Disponível em: <https://www.wikiaves.com.br/wiki/sabia-laranjeira>. Acesso em 9 nov. 2021.