Anta Brasileira: grande jardineira florestal
- GEAS UFMG
- 9 de ago. de 2021
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Mamífero mais pesado da América do Sul, chegando até 300kg, a Anta brasileira, cientificamente denominada de Tapirus terrestris, é uma das cinco espécies de antas do mundo. Sua distribuição original albergava cerca de 13 milhões de km², mas, em 2005, foi considerada extinta em 14% dessa área, em destaque no nordeste e sul brasileiro, principalmente pela perda de habitat. Atualmente, ocorre do sul da Venezuela ao norte da Argentina, se destacando no Brasil nos biomas da Amazônia, Cerrado, Pantanal e Mata atlântica. No geral, a anta localiza-se principalmente em ambientes florestais associados a fontes de água permanentes, mas pode ser encontrada em florestas de galeria, florestas tropicais de baixas elevações e áreas sazonalmente inundáveis. Destaca-se também florestas ripárias e florestas de palmeiras como habitats extremamente importantes para esses animais. As antas ocorrem em baixas densidades populacionais, podendo frequentemente ser encontradas sozinhas ou em grupos de no máximo 3 indivíduos, provavelmente aparentados.
Descansando durante o dia, a espécie herbívora se alimenta durante a noite, tendo a dieta baseada principalmente por folhas e fibras, podendo ingerir frutos também, que podem variar de 1-3 mm de diâmetro até 50mm, mas suas preferências variam conforme a região. Na Mata Atlântica, por exemplo, consomem principalmente Jerivá ou “Baba-de-boi” (Syagrus romanzoffiana), palmeira nativa do bioma, enquanto no Cerrado, seus hábitos alimentares se baseiam no Araticum (Annona crassiflora). As antas são importantes dispersoras de sementes em florestas tropicais e frutos, especialmente de palmeiras, comumente defecando na água, mas podendo também em locais secos ou em bordas próximas as florestas e latrinas. Sua digestão rápida, apesar de absorver menor percentual de carboidratos, faz com que muitas sementes passem pelo trato digestivo sem danos e, portanto, com maior capacidade de germinação. Além disso, ao se alimentar de diversas plantas e seus componentes, auxiliam para evitar o acúmulo de toxinas de uma única planta nas regiões florestais.
Com longo período reprodutivo, a gestação dura aproximadamente 13 a 14 meses, nascendo um filhote de aproximadamente 7 a 9 kg, com listras brancas no corpo que perduram até seus seis meses de vida, vindo a desaparecer a partir de então. Os machos não ajudam na criação do filhote e ele permanece com a mãe até seus 12 meses. Atinge a maturidade sexual aos 3 anos de idade, podendo sobreviver cerca de 22 anos ex situ e in situ mais de 30 anos. Seus principais predadores são a Onça-pintada (Panthera onca) e o Puma (Puma concolor).
Conforme os critérios da IUCN (2011) e da lista nacional do ICMBio a espécie é classificada como “Vulnerável”. Na Amazônia, a caça, alteração de habitat, extração de recursos, isolamento, pecuária, fogo e densidade humana são os principais fatores de ameaça a espécie. Já na Mata Atlântica, apesar da proteção legal, o desmatamento, extração de recursos, doenças infecciosas provindas de animais domésticos, atropelamentos em estradas, área urbana e turismo são mais relevantes. No Pantanal, a perda de florestas ripárias e corpos d’água com o estabelecimento de pastagens, competição, número de fios das cercas, caça e falta de fiscalização, mudanças climáticas e usinas hidrelétricas que alteram o regime dos rios pantaneiros são aspectos de maior atenção. No cerrado, além do desmatamento, baixa conectividade, caça, fogo, atropelamentos e doenças infecciosas advindas de animais domésticos, também se destaca a mineração e empreendimentos como variáveis impactantes às antas.
A espécie é assistida pelo Grupo Especialista das Antas (Tapir Speciallist Group – TSG) da Comsssão de Sobrevivência (Species Survival Commission – SCC) da União Internacional para a Conservação da Natureza (Internaciona Union for Conservation of Nature – IUCN). E 2007 foi estabelecido o Plano de Ação para Pesquisa e Conservação da Anta brasileira, bem como também já foram desenvolvidos na Argentina, Colômbia, Equador e Peru. No Brasil, destaca-se também o Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ) que, desde 1996, conduz a Iniciativa Nacional para a Conservação da Anta brasileira, pesquisando acerca de sua ecologia espacial, reprodução, demografia, ecologia alimentar, genética e saúde.
Por seu hábito de vida estar forte interligado aos corpos d’água, as mudanças climáticas configuram um desafio adicional a sua conservação. Assim, as ações humanas diretas, como desmatamento, caça e queimadas, afetam diretamente esses animais e indiretamente, alterando o regime das águas conforme as mudanças cada vez mais bruscas nas estações de seca e chuva. Portanto, é fundamental o controle dos impactos à espécie e o fomento à planos de conservação para as antas, uma vez que colaboram essencialmente para a manutenção da biodiversidade nos ecossistemas que habitam, pelo seu importante papel como dispersoras de sementes.
Texto por: Luiza Esteves Silva

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
CUBAS, Zalmir Silvino; SILVA, Jean Carlos Ramos; CATÃO-DIAS, José Luiz. Tratado de Animais Selvagens. 2a edição. São Paulo. Roca, volumes I e II. 2014.
MEDICI, Emília Patrícia et al. Avaliação do risco de extinção da anta brasileira Tapirus terrestris Linnaeus, 1758, no Brasil. Biodiversidade Brasileira-BioBrasil, n. 1, p. 103-116, 2012.
Anta – Tapirus terrestris. Onçafari. Disponível em <https://oncafari.org/especie_fauna/anta/> Aceso em: 26 de julho de 2021.
Iniciativa Nacional para a Conservação da Anta Brasileira – Pantanal e Cerrado. Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ). Disponível em < https://www.ipe.org.br/projetos/pantanal-e-cerrado/69-iniciativa-nacional-para-a-conservacao-da-anta-brasileira> Acesso em: 26 de julho de 2021.
Anta - Maior mamífero do Brasil, o animal aparece na lista de espécies ameaçadas, com tendência populacional em declínio. National Geographic Brasil. 14 de abril de 202. Disponível em < https://www.nationalgeographicbrasil.com/animais/mamiferos/anta> Acesso em: 26 de julho de 2021.
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