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Ararajuba: a ave que representa a bandeira do Brasil está sendo perdida

Guaruba guarouba, ave conhecida como Ararajuba, Tanajuba, Guarajuba, Arajuba, Ajurujuba e Papagaio Imperial, é pertencente à família Psittacidae e à ordem Psittaciformes caracterizando sua robustez do bico, pés hábeis e escamosos e uma grande capacidade de emissão de sons. A palavra “ararajuba” é derivada do tupi Guarajuba e significa “ave amarela”: assim, associada à sua coloração amarela única, é considerada como um dos endemismos mais belos do Brasil, já que possui as cores da bandeira do país. Com isso, é uma das aves mais desejadas pelos criadores e traficantes, já que possui um valor comercial muito alto.

G. guarouba é exclusiva da Amazônia brasileira com distribuição total em uma região total de aproximadamente 300.000 km², em áreas fragmentadas do oeste do Maranhão, eixo leste-oeste na região central do Pará, extremo sudeste do Amazonas e extremo nordeste de Rondônia. Nos últimos 30 anos, sua área de ocorrência reduziu em cerca de 30% e tem a possibilidade ser reduzida em mais 20-30% nos próximos 50 anos. Dessa forma, esses declínios equivalem ao tamanho da população madura (atualmente com apenas 10.000 indivíduos), gerando estimativas de cerca de 30% de declínio populacional ao longo de 22 anos (três gerações). Ademais, há estudos que confirmam que há um declínio continuado de ao menos 10% em três gerações. Estima-se que o tamanho da população dessas aves é inferior a 2.500 indivíduos, apesar de observações recentes indicarem existência de cerca de 10.000 indivíduos em 60 locais de ocorrência e em uma área de 174 mil km², 500 indivíduos ao longo do rio Tapajós (Pará) e uma população mínima de 300 indivíduos no leste do Pará, onde é vista com frequência. Como consequência de tais fatores, essa espécie é categorizada em risco de extinção e como Vulnerável (VU).

É classificado como um psitacídeo de médio porte com 34 a 36 cm de comprimento total, peso de 200 a 300 g quando adulto e não apresenta dimorfismo sexual. Sua nutrição preferencial consiste em frutas, sementes e nozes, normalmente coletados no alto de árvores, e o coco do açaí é bastante recorrente em sua dieta. Além disso, as ararajubas de vida livre são encontradas em florestas de terra firme, paisagens de relevo ondulado nas terras baixas da bacia Amazônica, e evitam áreas mais úmidas da Amazônia Central, mais ao sul (onde as temperaturas tendem a cair em determinadas épocas) e várzeas. Entretanto, grande parte dos sítios reprodutivos e dormitórios têm sido encontrados em locais alterados adjacentes à florestas, sendo comuns a presença de árvores secas ou mortas. Há uma preferência maior em árvores isoladas nessas áreas para pernoitar e nidificar com o objetivo de evitar predadores, como serpentes e macacos.

As ararajubas são seres extremamente sociais com um dos maiores bandos entre os psitacídeos neotropicais, consistindo de 4 a 20 indivíduos. A maturidade sexual da espécie é após três anos e com ninhadas férteis somente após 5 a 6 anos, com tempo geracional da espécie estimado em 7,4 anos. Ademais, durante o período reprodutivo, múltiplos pares reproduzem comunalmente e cada grupo inclui o casal e, possivelmente, seus filhotes dos anos anteriores para auxiliarem na nova cria (a paternidade extra par também foi registrada em cativeiro).

Atualmente, a principal ameaça à espécie é o desmatamento contínuo na Amazônia: o arco de desmatamento coincide com a distribuição geográfica das ararajubas. Esses animais já estão ausentes em áreas com desflorestamento avançado, embora sejam tolerantes a distúrbios na floresta, e os bandos também se ausentam sazonalmente em áreas fragmentadas, o que indica a necessidade de florestas primárias por provavelmente estarem em busca de alimento. Além disso, por serem animais dóceis e possuírem o hábito de nidificar em árvores isoladas, a captura é relativamente fácil e é potencializada em regiões fragmentadas, sendo, então, o tráfico ilegal uma ameaça relevante. Por fim, a espécie também sofre perseguição e caça no oeste do Pará por indígenas e fazendeiros.

Tendo em vista a importância de tal psitacídeo para a fauna e flora brasileira, é necessário maior pesquisa referente aos seus aspectos biológicos reprodutivos, existência de populações desconhecidas, tamanho da sua população global e sobre a vulnerabilidade frente à alteração ambiental. Com isso, existem ações de conservação voltadas para G. guarouba no Plano de Ação Nacional para Conservação das Aves da Amazônia e no Plano de Ação para Conservação das Espécies Endêmicas Ameaçadas de Extinção da Fauna da Região do Baixo e Médio Xingu. Porém, ainda são necessárias: a implantação de unidades de conservação ao longo da distribuição geográfica da espécie (incluindo a proteção específica aos seus sítios reprodutivos e alimentares), reprodução e manejo com sucesso da espécie em cativeiro e a busca pela espécie no oeste da sua distribuição geográfica (dessa forma, podem ser reveladas novas populações e consequentemente refinar as atuais estimativas populacionais).


Autora: Débora Mueller




Referências Bibliográficas:


INSTITUTO CHICO MENDES DE CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE. Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção Volume III – Aves. Brasília: [s.n.], v. III, 2018.


PRIOSTE, F. E. S. Avaliação do estado sanitário de Ararajubas (Guaruba guarouba) mantidas em cativeiro no estado de São Paulo - Brasil. Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo, São Paulo, Dezembro 2010.

 
 
 

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