Conservando as águas cristalinas do Pato Mergulhão
- GEAS UFMG
- 12 de jul. de 2021
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Pertencente à família Anatidae, o Pato-Mergulhão é o único representante presente na América do Sul. Cientificamente denominado de Mergus octosetaceus também é popularmente conhecido pelos nomes: Merganso do Sul, Mergulhador, Patão e Pato-mergulhador, devido ao seu forte hábito de mergulhar nos rios que é encontrado. O animal só sobrevive em ecossistemas ambientalmente equilibrados e sem alteração da limpidez dos cursos d’água. Devido à deterioração e poluição do meio ambiente, estima-se que a ave esteja extinta em mais de 90% dos locais de sua distribuição original. Inicialmente, no Brasil ela ocorria na Mata Atlântica e no Cerrado, abrangendo os estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia, Santa Catarina, Minas Gerais, Goiás e Tocantins. Nos dias atuais, seus exemplares são encontrados somente nos três últimos estados.
Ave aquática, possui um bico longo, serrilhado para capturar suas presas vivas ao realizar extensos mergulhos. É uma das poucas espécies brasileiras adaptadas a rios de regiões de planalto, principalmente aqueles com fundo arenoso ou rochoso com coluna de água rasa, que possibilita a visibilidade do fundo. Também pode ser encontrada em ribeirões com corredeiras em regiões serranas. Apesar de ser sedentária, vivendo em apenas um trecho do rio, a espécie sobe e desce a procura de pequenos peixes para se alimentar. Ela possui predileção pelas famílias Characidae, composta por peixes de água doce pequenos e coloridos, em especial o Lambari, e Loricariidae, cascudos. Para isso, a espécie necessita de águas limpas e claras, protegidas por matas ciliares e com abundância de peixes.
É uma ave monogâmica, isto é, os casais mantêm-se juntos ao longo de toda vida. Seu período reprodutivo se dá entre os meses de maio e setembro. Essa espécie nidifica em cavidades arbóreas, rochas e terra à beira dos rios e riachos, vindo a chocar até oito ovos por ninhada. Durante a incubação, o macho fica responsável pelos cuidados com a fêmea e dos ovos, sendo o sentinela do ninho. Após aproximadamente 30 dias, os filhotes nascem e permanecem com os pais por até cinco meses. É importante destacar que a reprodução de playback com sons de predadores para atrair as aves, a fim de observá-las e produzir fotos, causa estresse ao casal. Essa atitude faz com que o macho se afaste do ninho a procura do suposto invasor, deixando a fêmea e os ovos vulneráveis no ninho. Ela, por sequência, pode se juntar a ele para resolução da ilusória ameaça, abandonando os ovos. Esse cenário confere um sério problema diante do quadro de ameaça da espécie, sendo uma atitude indefensável, injustificada e não recomendada por especialistas envolvidos no PAN do Pato-mergulhão. Recomenda-se, para sua observação, o uso de binóculos e que o uso de playback seja restrito para ações voltadas à sua conservação.
Atualmente, estima-se que sua população total seja inferior a 250 indivíduos, de modo que a espécie é considerada Criticamente em Perigo conforme o relatório da IUCN de 2012 e os Planos Municipais de Conservação da Mata Atlântica. É necessário reforçar sua forte especificidade de habitat, devido a dependência da estabilidade dos ecossistemas e, principalmente, dos cursos d’água nos quais vive e vegetação adjacente, tanto para sua nidificação quanto para alimentação. Assim, é pouco tolerante a impactos no ambiente, de modo que atividades que provoquem alterações hidrológicas e modificações na estrutura do meio, ainda que pequenas, podem inviabilizar sua sobrevivência em determinado local. Destacam-se os impactos da expansão da atividade agropecuária, que aumenta o nível dos sedimentos em suspensão da água devido ao incremento da erosão devido a remoção da cobertura vegetal, deixando as águas turvas. Além disso, ela também é responsável por alterações na qualidade físico-químicas da água com poluentes como adubos e esgotos, prejudicando a vida aquática. Além disso, a construção de hidrelétricas também prejudica os cursos de água, uma vez que sua instalação transforma os rios de correnteza em lagos artificiais.
Em 2006 o IBAMA elaborou o Plano de Ação Nacional para Conservação do Pato-mergulhão, cuja implementação foi assumida pelo ICMBio, contando também com profissionais que já trabalhavam com a conservação da espécie. O plano objetivava, no geral, ampliação do conhecimento sobre sua distribuição, história, reprodução, manutenção da integridade de habitats, recuperação daqueles degradados e educação ambiental, tendo sido finalizado em 2016. Em 2017 foi elaborado o segundo PAN, para dar prosseguimento às atividades de conservação. A espécie também é protegida por Unidades de Conservação Federais, como o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros (GO), Parque Nacional da Serra da Canastra (MG) e a Estação Ecológica Serra Geral de Tocantins (TO).
Por: Luiza Esteves Silva

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
Pato-Mergulhão: Embaixador das águas brasileiras. ICMBIO. Disponível em <https://www.icmbio.gov.br/cemave/destaques-e-noticias/135-pato-mergulhao-mergus-octosetaceus-embaixador-das-aguas-brasileiras.html> Acesso em: 20 de junho de 2021.
Pato-Mergulhão. WIKIAVES. Disponível em <https://www.wikiaves.com.br/wiki/pato-mergulhão> Aceso em: 20 de junho de 2021.
Plano de Ação Nacional para a Conservação do Pato-mergulhão 2018-2023. ICMBIO. Disponível em <https://www.icmbio.gov.br/portal/faunabrasileira/plano-de-acao-nacional-lista/2732-plano-de-acao-nacional-para-a-conservacao-do-pato-mergulhao> Acesso em: 20 de junho de 2021.
Plano de Ação Nacional para a Conservação do Pato-mergulhão 2018-2023. ICMBIO. Disponível em <https://www.icmbio.gov.br/portal/images/stories/docs-pan/pan-pato-mergulhao/2-ciclo/pan_pato_mergulhao_sumario.pdf> Acesso em: 20 de junho de 2021.
Plano de Ação Nacional para a Conservação do Pato-mergulhão. ICMBIO. Brasília 2014. Disponível em <https://www.icmbio.gov.br/portal/images/stories/docs-pan/pan-pato-mergulhao/1-ciclo/pan-pato-mergulhao-livro.pdf> Aceso em: 20 de junho de 2021.
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