Dificuldades na conservação do Guigó-da-caatinga
- GEAS UFMG
- 1 de mar. de 2021
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Callicebus barbarabrownae, popularmente denominado por guigó, guigó-da-caatinga, guigó-loiro e sauá, é considerado um primata de pequeno porte com cerca de 80 centímetros de comprimento e peso de 1 a 2 kg. Possui pelagem que pode ser de coloração amarela, marrom e preto, variando de tonalidade em diversas partes do corpo, com cores branco-pálidas localizadas na nuca, ombro, costeletas e topo da cabeça. É uma espécie rara e endêmica da Caatinga com ocorrência na Bahia e oeste de Sergipe, habitando áreas arbóreas e matas orográficas entre 241 e 908 m. Há mais de 25 unidades de conservação ao longo da distribuição geográfica da espécie, sendo quase metade delas Reservas Particulares de Patrimônio Natural (RPPN).
O guigó alimenta-se principalmente de frutas, mas pode incluir invertebrados e folhas em sua dieta, sendo o tamanho da área de vida do táxon desconhecido. Ademais, socialmente organiza-se em pequenos grupos, geralmente de quatro indivíduos, um casal monogâmico e seus filhotes, sendo considerado, então, a vocalização utilizada para demarcar seus territórios. Apesar de não ser restrito a habitats primários e apresentar certa tolerância a modificações do ambiente, C. barbarabrownae foi categorizada como Criticamente em Perigo pelos critérios da IUCN, em escala global, e do Ministério do Meio Ambiente, em escala nacional, com tendência populacional em declínio.
Tendo em vista a densidade populacional muito baixa, estima-se que o tamanho da população total remanescente desses primatas seja inferior a mil indivíduos, e, consequentemente, infere-se que o número de indivíduos maduros não seja maior que o limiar de 250. O declínio populacional continuado é decorrente, principalmente, da perda e fragmentação do habitat. Ademais, destaca-se também ameaças como o desmatamento associado à implantação de pastagens para pecuária extensiva e à conversão de áreas para agricultura, novos assentamentos rurais em área de ocorrência da espécie, expansão urbana causando perda de áreas rurais de municípios e fragmentação florestal levando à redução de hábitat. Dessa forma, as populações remanescentes da espécie estão descontinuadas ao longo da sua distribuição, gerando potenciais riscos demográficos e genéticos. Considera-se também que a ampliação das áreas urbanas aumenta o risco de eletroplessões, atropelamentos e predação por animais domésticos, como cães.
Dessa maneira, diversos estudos e ações de conservação do táxon foram e estão sendo executados. Rodrigo Cambará Printes (ICMBio) desenvolveu projeto de doutorado pela UFMG, para levantamento de populações, definição de limites de distribuição e avaliação do status taxonômico da espécie mediante financiamento do Programa de Proteção as Espécies Ameaçadas de Extinção da Mata Atlântica Brasileira, coordenado em parceria pela Fundação Biodiversitas e CEPAN. Os trabalhos desse pesquisador incluem, ainda, análises etnoprimatológicas e proposição de estratégias de conservação. Além disto, o guigó-da-caatinga está listado no Apêndice II da CITES, em 2003 foi instituído um Grupo de Trabalho para a Conservação de Callicebus barbarabrowna e Callicebus coimbrai, em 2010 foi incluído entre os 25 primatas mais ameaçados do mundo pelo Grupo Especialista em Primatas da IUCN e pela Sociedade Internacional de Primatologia, e, por fim, em 2011 foi enfocado na formulação do Plano de Ação Nacional para os Primatas do Nordeste (PAN-PRINE) que estabeleceu estratégias para sua conservação.
Apesar das ações de conservação existentes, ainda são necessárias algumas estratégias, como o desenvolvimento de atividades de educação ambiental com os agricultores e planejamento conjunto do desenho dos lotes para assentamentos rurais, a fim de manter a conexão entre as áreas de reserva legal, com parceria entre o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) e os órgãos ambientais federais competentes. Destaca-se também a necessidade de financiamento para atividades agrícolas e irrigação como incentivo à agricultura familiar, para diminuir os impactos da pecuária e do desmatamento anual para novas áreas para plantio. É igualmente importante buscar resolver a situação fundiária e implementar planos de manejo nas Unidades de Conservação já existentes e criar mecanismos para facilitar a criação de Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPN). Por fim, os autores também afirmam que “Nos locais onde há necessidade de estabelecer novas Unidades de Conservação de domínio público, sugere-se que sejam Unidades de tamanho operacional para a fiscalização e desapropriação, incentivando, simultaneamente, a criação de Reservas Particulares do Patrimônio Natural em seu entorno. Essa estratégia é recomendada para a região de Salitre, município de Gentio do Ouro (BA), onde foram encontradas caatingas arbóreas com guigós (Printes & Rylands 2008).
Autora: Débora Mueller

Referências Bibliográficas
NASCIMENTO, T. R. EFEITO DA FRAGMENTAÇÃO DA PAISAGEM SOBRE O GUIGÓ DA CAATINGA, UMA ESPÉCIE DE PRIMATA ENDÊMICA E AMEAÇADA DE EXTINÇÃO. UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE - UFRN, Natal, Novembro 2016.
PRINTES, R. C.; ALONSO, A. C.; JERUSALINSKY, L. Avaliação do Risco de Extinção de Callicebus barbarabrownae Hershkovitz, 1991 no Brasil. Insituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade ICMBio. Disponivel em: <https://www.icmbio.gov.br/portal/component/content/article/8035-mamiferos-callicebus-barbarabrownae-guigo-da-caatinga#:~:text=Callicebus%20barbarabrownae%20%C3%A9%20uma%20esp%C3%A9cie,50%20indiv%C3%ADduos%20maduros%20em%20cada.>. Acesso em: 21 Fevereiro 2021.
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