Jararaca Ilhôa: uma raridade da Ilha das Cobras
- GEAS UFMG
- 29 de nov. de 2021
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Por: Luiza Esteves Silva

A Jararca Ilhôa, cientificamente conhecida como Bothrrops insularis, é uma serpente encontrada somente na Ilha de Queimada Grande, localizada no litoral sul do estado de São Paulo. Popularmente, também é conhecida como Ilha das Cobras, possuindo 0,37 km² e com a população predominante em seu ecossistema são serpentes, que possuem alta densidade populacional. No entanto, a outra nomenclatura vincula-se ao histórico das queimadas realizadas por antigos pescadores que, sem conhecimento da biodiversidade local, desembarcavam para descansar. Atualmente, é uma área pertencente e Área de Proteção Ambiental (APA) de Canaéia-Iguape-Peruíbe. É restrita a pesquisadores e profissionais ambientais que só podem visitar o local com base em cuidados e medias pré-determinados, avaliação e autorização pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).
A espécie de serpente endêmica do Brasil possui porte médio, com comprimento corporal total máximo de 882 mm. Estimativas de 2008 indicaram cerca de 2.000 a 2.500 indivíduos com densidade de aproximadamente 60 a 80 serpentes por hectare, sendo mais abundante em regiões mais elevadas ao norte da ilha. Ocorre principalmente em arvores ou no chão da mata em ambiente de Mata Atlântica, que recobre 25ha da ilha, possuindo área de ocupação calculada de 0,25km² em relação ao território total. No entanto, pode ser eventualmente em áreas cobertas por capim, com adultos sobre a vegetação. Com hábitos diurnos ou noturnos, os adultos alimentam-se principalmente de aves migratórias, retendo o pássaro na boca até o veneno mata-lo. Já os jovens de anfíbios, lagartos e centopeias, utilizando o engodo caudal para atrais as presas ecotérmicas. Seu período reprodutivo se concentra entre os meses de julho e setembro, possuindo período gestacional estimado de 120 a 150 dias, com os filhotes nascendo entre março e junho, cuja média da ninhada é de 6,5 indivíduos.
É uma serpente com dentição do tipo solenóglifa, cujos pares anteriores são grandes e ocos, pelos quais a peçonha escorre. Seu veneno, que possui ação proteolítica, coagulante e hemorrágica é especializado para predar pássaros, sendo mais tóxico para esses animais do que o veneno de jararacas continentais, como a Bothrops jararaca. Ele não é utilizado para produção de medicamentos, todavia existem pesquisas voltadas a bioprospecção, que consiste na avaliação e exploração legal e sistemática da diversidade de vida existente no local. A espécie está na categoria de criticamente em perigo conforme a lista vermelha da União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN) e na lista vermelha do estado de São Paulo. Apesar de grande parte da ilha ainda ser coberta pela floresta original, algumas áreas cobertas por capim, devido as queimadas do passado, ainda são causa de ameaça a serpente. Também existem evidências de captura de espécimes para o tráfico de animais, provavelmente para o mercado negro de espécies exóticas.
A Jararaca Ilhôa é contemplada pelo Plano Nacional de Hepertofauna Insular Ameaçada de Extinção (PAN Herpetofauna Insular) de 2011, que foca em ações necessárias para reversão do risco de extinção das espécies-alvo. Nesse estudo, contabilizaram-se em torno de uma jararaca a cada 300 metros, com uma quantidade estável de animais, apesar das ameaças, de forma que os esforços se concentram no combate à biopirataria e a manutenção do ambiente natural compatível com sua permanência na natureza. Também é abrangida pelo Plano de Ação Nacional para a Conservação da Herpetofauna da Mata Atlântica do Sudeste, aprovado em 2015, se tratando de instrumento de gestão de forma participativa ente o governo e a sociedade civil para coordenar ações de conservação de répteis e anfíbios dessa região, para gerar conhecimento, sensibilização e controle do impacto antrópico sobre esses animais, beneficiando um total de 170 espécies.
As serpentes são essenciais na natureza por seu fundamental papel dentro de diversas cadeias alimentares, funcionando como predadoras e presas de diversos animais. Além disso, seus potenciais farmacológicos são extremamente benéficos aos seres humanos. Isso deve pois são base para produção de soros antiofídicos, que auxiliam no tratamento de pessoas que possam eventualmente se acidentar com esses animais, quanto para síntese de fármacos que auxiliam no controle de doenças como o Captopril, anti-hipertensivo de grande uso na medicina humana e veterinária. Dessa forma, é de suma importância a conservação desses animais e, principalmente, de espécies endêmicas como a Jararaca Ilhôa.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Botrhops insularis. Sistema de Informação sobre a Biodiversidade Brasileira (SiBBr). Disponível em < https://ferramentas.sibbr.gov.br/ficha/bin/view/espec ie/bothrops_insularis > Acesso em: 21 de novembro de 2021
Répteis – Bothrops insularis. Avaliação do Risco de Extinção de Bothrops insularis no Brasil. Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Disponível em <https://www.icmbio.gov.br/portal/faunabras ileira/estado-de-conservacao/7886-repteis-bothrops-insularis> Acesso em: 21 de novembro de 2021A jararaca-ilhôa (Bothrops insularis) e a ilha da queimada grande. Herpetofauna. Disponível em <http://www.herpetofauna.com.br/insularis.htm> Acesso em: 21 de novembro de 2021
SILVA, Jean Carlos Ramos. Tratado de animais selvagens-medicina veterinária. Editora Roca, 2007.
Conhecendo a Ilha da Queimada Grande. Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). 08 de fevereiro de 2019. Disponível em <https://www.icmbio.gov.br/portal/ultimas-noticias/20-geral/10210-conhecendo-a-ilha-da-queimada-grande-e-seus-habitantes > Acesso em: 21 de novembro de 2021
ICMBIO. Sumário executivo do plano de ação nacional para a conservação dos peixes rivulídeos ameaçados de extinção. 2013.
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