Mergulhando com as ariranhas nas águas brasileiras
- GEAS UFMG
- 24 de mai. de 2021
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A Ptenoura brasiliensis, popularmente conhecida como ariranha, onça-d’água, lontra gigante ou lobo-do-rio, é uma espécie endêmica da América do Sul. É o maior membro da família dos mustelídeos, podendo atingir 180cm de comprimento e 32 kg de peso. Seu corpo é alongado, possui membranas interdigitais nas patas, orelhas pequenas e arredondadas e focinho coberto por pelos curtos de coloração marrom. Cada indivíduo apresenta uma mancha pardo-amarelada única na região da garganta e pescoço, característica que permite sua identificação visual.
Com hábitos diurnos e semi-aquáticos, as ariranhas se encontram em regiões sazonalmente alagáveis e com águas mais calmas, contemplando diversos tipos de rios, córregos, lagos, várzeas de rios e florestas. Para dormir durante a noite e cuidar dos filhotes, utiliza de tocas cavadas nos barrancos de rios, lagos e igarapés. Apesar da alimentação desses animais englobar principalmente peixes, moluscos e crustáceos, também pode abranger pequenos mamíferos, aves, répteis e eventualmente invertebrados. Entretanto, tende a ser mais seletiva em seus hábitos alimentares durante a estação seca e oportunista na cheia, quando os peixes estão mais dispersos nas áreas de floresta alagada.
A espécie vive em grupos de 2 a 16 indivíduos, formados por um casal dominante, cujas vocalizações e marcações odoríferas são mecanismos de comunicação extremamente importantes para evitar contatos diretos entre grupos. Eles constroem locais e latrinas nos barrancos dos corpos d’água, protegidas por raízes ou árvores caídas, as quais são utilizadas para deposição de fezes e urina, exercendo um importante papel na marcação territorial. Além disso, também constroem campistes em áreas ao longo de barrancos, regularmente utilizados para marcação territorial e para descanso diurno.
No Brasil, as ariranhas apresentavam ampla distribuição desde o Rio Grande do Sul até a Amazônia, exceto na região semiárida da Caatinga. Atualmente, porém, suas principais populações se encontram nas regiões Amazônica e do Pantanal. Esses locais, entretanto, são alvo da construção de hidrelétricas de pequeno e grande porte, que levam a perda de habitat e alteração da comunidade de peixes na região, principal recurso alimentar das ariranhas. No passado, a ariranha foi intensamente caçada, devido ao alto valor de comercialização de sua pele, utilizada na alta costura internacional, captura para zoológicos e criação como animal de estimação. Atualmente, é afetada principalmente por conflitos com pescadores comerciais e de subsistência, devido a interferência da espécie na aquicultura. Ademais, é alvo da superexploração da pesca, caça ilegal, zoonoses e contaminação de corpos d’água com mercúrio, agrotóxicos e outros poluentes.
A espécie no Brasil é classificada como Vulnerável pela IUCN. No bioma Amazônico, porém, é classificada como Dados Insuficientes (DD) e no Pantanal como Em Perigo (EN) conforme o critério C1. Em 2010, foi publicada a Portaria do Plano de Ação Nacional para Conservação da Ariranha (ICMBio/MMA 2010), que tem como objetivo geral conservar as populações da espécie em suas áreas de distribuição atual no país e recuperar suas áreas de distribuição histórica. Além disso, “Projeto Ariranha” fundado em 2008, é um grupo de profissionais que visam a conservação da ariranha, usando conhecimento científico e engajamento popular para resolver problemas que ameaçam a espécie. Sua equipe é responsável por diversas publicações e estudos que auxiliaram e auxiliam nas bases dos Planos de Ação Nacional e Global desses animais (“Sumário Executivo do Plano de Ação Nacional Para conservação da Ariranha” e o “The Global Otter Conservation Strategy”)

Texto: Luiza Esteves Silva
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
Projeto Ariranhas. O Projeto. Disponível em < https://projetoariranhas.com/projeto/> Acesso em: 11 de janeiro de 2021.
Associação Amigos do Peixe Boi (AMPA). Ariranha. 23 de novembro de 2018. Disponível em < http://ampa.org.br/especies/ariranha/> Acesso em: 11 de janeiro de 2021.
SILVEIRA, Filipe Ferreira da. Ariranha (Pteronura brasiliensis). BiMaLab Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Disponível em < https://www.ufrgs.br/faunadigitalrs/mamiferos/ordem-carnivora/familia-mustelidae/ariranha-pteronura-brasiliensis/> Acesso em: 11 de janeiro de 2021.
BOZZETTI, Bruno Freitas. Caracterização de habitat e aspectos reprodutivos da ariranha (Pteronura brasiliensis, Zimmermann, 1780) no lago da Usina Hidrelétrica de Balbina, Amazonas, Brasil. Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA). 19 de agosto de 2011. Disponível em < https://bdtd.inpa.gov.br/bitstream/tede/1435/1/Dissertacao_Bruno_Bozzetti.pdf>
Acesso em: 11 de janeiro de 2021
DE ALMEIDA RODRIGUES, Lívia; LEUCHTENBERGER, Caroline; DA SILVA, Vania Carolina Fonseca. Avaliação do risco de extinção da ariranha Pteronura brasiliensis (Zimmermann, 1780) no Brasil. Biodiversidade Brasileira-BioBrasil, n. 1, p. 228-239, 2013. 30 de junho de 2013. ICMBIO.
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