O Bico-reto-azul e suas flores
- GEAS UFMG
- 22 de mar. de 2021
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O Heliomaster furcifer é uma ave da ordem dos Apodiformes e da família Trochilidae. Seu nome científico é proveniente do grego e do latim, no qual “hëlios” equivale a sol, “máster” a buscador e “furcifer” àquele que carrega tesoura (beija-flor que busca o sol e carrega tesoura). Medindo entre 12 a 12,6 centímetros e pesando cerca de 5 a 6,5 gramas, é bem caracterizado por possuir um bico um pouco maior do que as outras aves de sua família. As fêmeas possuem a parte superior verde e inferior cinza. Os machos também apresentam o dorso verde, mas sua garganta é rosa com o peito azul escuro bem iluminado. Entretanto, ao contrário de outras espécies, ele apresenta duas mudas por ano, a nupcial e a pós-nupcial. A primeira ocorre em outubro, de modo que as penas coloridas e chamativas duram a fase do seu período reprodutivo que se estende de novembro a março. Já a segunda, se dá em julho, na qual ele adquire uma plumagem de descanso, perdendo sua plumagem exuberante da garganta e peito, tornando-se semelhante a fêmea.
A ave possui um voo muito elegante e não é territorialista. Entretanto, com raras exceções, revida ataques de outros beija-flores. A espécie ocorre na Argentina, Bolívia, Colômbia, Paraguai e Uruguai. No Brasil, está distribuída ao longo das regiões centro-oeste, sudeste e sul, com destaque aos estados do Rio Grande do Sul, São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Distrito Federal, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Amazônia e Acre. É considerado moderadamente comum na ponta oeste do Parque Espinilho, unidade de conservação localizada no município brasileiro de Barra do Quaraí, no extremo sudoeste do Rio Grande do Sul. A região é caracterizada pelo vegetal arbóreo que dá origem ao nome do parque, de altas dimensões de altura. Entretanto, em outras regiões do estado, a ocorrência do beija-flor é rara.
Assim como os outros beija-flores, possuem o bico fino e comprido com uma língua bifurcada para se alimentarem do néctar no interior das flores. A musculatura do peito é grande e forte, os ossos das asas curtos, possibilitando o rápido batimento delas. Ainda que pequenos, podem ingerir uma quantidade de néctar cerca de duas vezes maior que o peso de seu corpo. Durante a sua fase migratória, em Minas Gerais, um macho com a plumagem pós-nupcial foi relatado em maio de 2012 em uma floresta ribeirinha no município de Unaí. Esse e outros relatos no sudeste do Brasil foram feitos durante a estação de seca, de abril a setembro, devido ao hábito migratório da espécie que está associado ao inverno. Ao longo desses relatos, o H.furcifer foi visto em flores Pyrostergia venusta, uma trepadeira lenhosa, que, durante o período de junho e julho produz flores ornitofílas (polinizadas por aves). É interessante destacar que sua florescência coincide com o período migratório da ave. Além disso, o beija-flor é considerado um dos principais polinizadores de Dolichandra cynanchoides, trepadeira lenhosa encontrada no Chaco Argentino e no sul do Brasil. Ela produz flores de Novembro a Fevereiro, coincidindo com o período reprodutivo da ave.
No que tange ao seu estado de conservação, a espécie é classificada pela IUCN como “Pouco preocupante” e não existem projetos de conservação específicos para a espécie ou relatos de ameaças específicas a sua distribuição ou ocorrência. José Francisco Haydu e Verônica Bender Haydu, apesar de não possuírem formação voltada aos animais, estudam os beija-flores e sua relação com as flores que se alimentam, produzindo seu site “Beija-flores e suas flores” com informações e fotografias dessas aves, incluindo o H.furcifer. Entretanto, os beija-flores são essenciais na polinização e, consequentemente, fecundação das plantas. Ao se alimentar, carreia o pólen no bico e nas penas e, ao visitar outras plantas, o pólen aderido as fertiliza, de modo que se reproduzam, gerando novas sementes. Existem plantas que dependem de um único polinizador e, no caso do desaparecimento do agente específico, elas podem desaparecer também. Essas aves possuem relação direta com a manutenção da flora e conserva-los é de extrema importância para preservar a biodiversidade não só animal, como vegetal.
Por:Luiza Esteves Silva

Referências Bibliográficas:
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Bico-reto-azul (Heliomaster furcifer). Eco Registros.org – Registros ecológicos da comunidade. Disponível em < http://www.ecoregistros.org/site_br/imagen.php?id=241776 > Acesso em: 04 de março de 2021
MAZZONI, Luiz Gabriel; PERILLO, Alyne. The wintering distribution of the Blue-tufted Starthroat Heliomaster furcifer (Apodiformes: Trochilidae) in Minas Gerais, and its association with Pyrostegia venusta (Bignoniaceae). Atualidades Ornitológicas, v. 180, p. 7-9, 2014.
REPENNING, Márcio; FONTANA, Carla Suertegaray. Novos registros de aves raras e/ou ameaçadas de extinção na Campanha do sudoeste do Rio Grande do Sul, Brasil. Revista Brasileira de Ornitologia, v. 16, n. 1, p. 58-63, 2008.
HAYDU, José Francisco; HAYDU, Verônica Bender. Heliomaster furcifer. Beija-flores e suas flores. Disponível em< https://www.jfhaydu.com/jfh-heliomaster-furcifer> Acesso em: 04 de março de 2021
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