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O que o Cerrado reflete na raposa-do-campo?

Por: Débora Mueller


O Cerrado, considerado o segundo maior bioma do Brasil, possui a menor porcentagem de terras protegidas, sendo o ecossistema que mais sofreu alterações por ações antrópicas e que possui menos de 20% de sua área original em estado primitivo. Como consequência, a raposa-do-campo, Lycalopex vetulus, obteve uma perda populacional equivalente. Dessa forma é categorizada como vulnerável (VU) pelos critérios A2+3cd e como Menos Preocupante (LC) pela IUCN, devido ao fato da espécie possuir uma adaptabilidade significativa frente às ações antrópicas e também aparentar ser abundante na área central de sua distribuição.


Também conhecida como raposinha, é o único canídeo brasileiro endêmico do Cerrado, mas podendo também ser encontrada em zonas de transição, incluindo algumas regiões de habitats abertos no Pantanal. Entretanto, a identificação errônea da espécie é uma das maiores dificuldades na elaboração de conhecimento da distribuição da espécie, por ser baseada em sua coloração. A raposa-do-campo pode ser confundida por pesquisadores não especialistas com o cachorro-do-mato (Cerdocyon thous) e o graxaim-do-campo (Lycalopex gymnocercus). A distribuição do primeiro se sobrepõe com L. vetulus. Diversos registros da raposa-do-campo no Nordeste, foram atribuídos erroneamente como cachorro-do-mato decorrente da espécie dessa região possuir pelagem mais clara do que em outras partes do Brasil, podendo, assim, ser facilmente confundida por pesquisadores menos experientes. Também há estudos que indicam que a maior parte dos L. vetulus diagnosticados com leishmaniose e raiva no Nordeste eram, na verdade, Cerdocyon thous.


Dessa forma, a identificação deve ser baseada em outras diferenças morfológicas menos variáveis, como o tamanho corporal, tamanho e formato da cabeça e focinho em relação ao corpo (sempre maiores e mais robustos no cachorro-do-mato, seguido do graxaim-do-campo), e a presença de uma mancha negra na base da cauda da raposa-do-campo, característica peculiar a todas as espécies do gênero Lycalopex, além da ponta da cauda negra. É importante ressaltar que a raposinha é considerada o menor canídeo da América do Sul, medindo entre 58,5 e 64 cm e pesando até 4 kg.


A espécie é considerada carnívora insetívora-onívora, em que cupins são a principal parte de sua dieta. Também consome, em menores porções, besouros, gafanhotos, pequenos mamíferos, lagartos e cobras, anuros e aves e, de acordo com a disponibilidade no ambiente e época do ano, frutos silvestres e exóticos. Com isso, é considerada como uma importante dispersora de sementes devido à alta diversidade de frutos consumidos e à elevada presença de sementes intactas nas fezes. Ademais, são animais com padrão de atividade crepuscular-noturno, solitários e monogâmicos, formando pares durante a estação de acasalamento que permanecem juntos durante a criação dos filhotes.


Os maiores desafios encontrados à conservação da raposa-do-campo consistem na destruição do habitat e nas ações antrópicas: a expansão da fronteira agropastoril é a principal fonte de fragmentação e supressão de hábitats adequados à sobrevivência da espécie – áreas de Cerrado em São Paulo e Minas Gerais ocorrem em manchas isoladas separadas da porção mais contínua e central do bioma; avanço desordenado dos centros urbanos; exploração crescente da madeira para fornecimento de carvão; expansão da malha viária e ferroviária; atropelamentos; ataques por cães domésticos; perseguição direta pelo homem decorrente da e percepção errônea de que as raposas-do-campo atacam animais domésticos - apesar de aves domésticas serem pouco frequentes ou ausentes na dieta da espécie.


Dessa maneira, infelizmente não existem ações de conservação específicas para esta espécie, em curso ou planejadas, por parte de instituições governamentais. Ações necessárias incluem medidas que priorizem a proteção dos habitats adequados à sobrevivência da raposa-do-campo, que são específicos do bioma Cerrado, já que esta espécie é endêmica deste ecossistema. Além disso, a realização de um Plano de Ação Nacional (PAN) para a conservação da raposa-do-campo, com o objetivo de reunir especialistas e informações que possam avaliar as melhores estratégias para aumentar o conhecimento da espécie e garantir sua sobrevivência em longo prazo.





Referências

FUNDAÇÃO JARDIM ZOOLÓGICO DE BRASÍLIA. Raposa-do-campo, 2020. Disponivel em: <https://www.zoo.df.gov.br/raposa-do-campo/>. Acesso em: 17 Abril 2022.

LEMOS, F. G.; AZEVEDO, F. C.; BEISIEGEL, B. M. Avaliação do risco de extinção da Raposa-do-campo Lycalopex vetulus (Lund, 1842) no Brasil. In: ______ Biodiversidade Brasileira. São Paulo: [s.n.], 2013. p. 160-171.


 
 
 

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