Os desafios enfrentados pelo macaco-prego

O macaco-prego, por abranger uma quantidade significativa de espécies dentro dos gêneros Cebus e Sapajus, é considerado o primata com maior distribuição geográfica entre as espécies neotropicais.É encontrado em diferentes tipos de florestas e ecossistemas, com abrangência desde o Nicarágua, América Central, até o sul da Argentina. Devido a sua dieta onívora e sua plasticidade comportamental, o táxon possui uma grande capacidade adaptativaemáreas alteradas pelo homem. Com isso, há espécies nos seguintes níveis de conservação: Menos Preocupante (LC), Vulnerável (VU), Quase Ameaçada (NT), Em Perigo (EN) e Criticamente em Perigo (CR). Tais condições dependem dos hábitos de cada população e fragmentação de seu respectivo habitat. Nesta leitura serão apresentados apenas dois exemplos de espécies classificadas como macaco-prego.

O macaco-prego-do-papo-amarelo (Sapajus cay) está distribuído nos estados do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, regiões que vem sendo intensamente impactadas, nas florestas subtropical úmida, estacional semidecidual e pantaneiras, Cerrado, matas ciliares e de galeria. Há suspeitas de que o declínio populacional seja maior que 30% nas últimas três gerações (ou 48 anos) decorrente da desconexão do habitat, aumento da matriz rodoviária e energética, expansão urbana, incêndios, caça, vulnerabilidade a epidemias, assentamentos rurais, agropecuária, desmatamento e endogamia. Entretanto, por possuir habilidades manipulativas, uso de ferramentas, força de exploração de recursos e dentição forte (grandes pré-molares e molares com esmalte espesso), S. caytêm conseguido se adaptar frente aos vários desafios, sendo considerado uma espécie Vulnerável.

Já o macaco-prego-galego (Sapajus flavius), classificado como espécie em periigo, é endêmico da Mata Atlântica nos estados do Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco e Alagoas. O habitat natural desse primata, sob forte pressão antrópica principalmente devido a plantações de cana-de-açúcar, teve perda de pelo menos 50%: desmatamento, captura, expansão urbana e fragmentação severa do bioma contribuíram para que o número de indivíduos da espécie resultasse em apenas 1.000. Porém, como o táxon não é restrito a habitats primários, o mesmo faz o uso de áreas de mangue para atividades de vocalizações de forrageio e se alimenta, também, de diversas espécies vegetais exóticas, como manga, jaca, dendê e cana-de-açúcar. Com a perda de seu habitat e consequente isolamento de populações, além da caça e captura, o macaco-prego-galego possui ameaças relevantes e constantes.

Tendo em vista esse cenário, o Projeto Mucky abriga várias espécies de primatas brasileiros, com cuidados ininterruptos e atendimento médico veterinário, além da dedicação ao combate ao tráfico de animais silvestres através da educação ambiental. Tal projeto consiste em uma ONG e é o único órgão do gênero no Brasil de acordo com o IBAMA, e registrado como Mantenedor da Fauna Silvestre na Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo. As atividades consistem, principalmente, em socorrer, recuperar, manter, pesquisar, buscar a procriação das espécies em risco e até mesmo reintegrar os primatas à natureza.

Autora: Débora Aroeira Mueller

Referências bibliográficas

INSTITUTO CHICO MENDES DE CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE. Avaliação do Risco de Extinção de Sapajus cay (Illiger, 1815) no Brasil. Site do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. Disponivel em: <https://www.icmbio.gov.br/portal/faunabrasileira/estado-de-conservacao/7270-mamiferos-sapajus-cay-macaco-prego>. Acesso em: 13 Setembro 2020.

INSTITUTO CHICO MENDES DE CONSERVAÇÃO DA BIODIVERSIDADE. Avaliação do Risco de Extinção de Sapajus flavius (Schreber, 1774) no Brasil. Site do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. Disponivel em: <https://www.icmbio.gov.br/portal/faunabrasileira/estado-de-conservacao/7272-mamiferos-sapajus-flavius-macaco-prego-galego>. Acesso em: 13 Setembro 2020.

ROCHA, V. J. Macaco-Prego, como controlar esta nova praga florestal?, Curitiba. 95-99.