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Peixe-boi-amazônico: maior herbívoro de água doce sul-americano

Os peixes-bois são mamíferos aquáticos pertencentes à ordem Sirenia e a família Trichechidae em que, no Brasil, existem duas espécies: o peixe-boi-marinho (Trichechus manatus) e o peixe-boi-amazônico (Trichechus inunguis). O T. inunguis é o menor e único sirênio exclusivamente de água doce e é endêmico da Bacia Amazônica, ocorrendo também no Equador, Peru e Colômbia. Um adulto desta espécie pode medir até 275 cm e pesar até 420 kg, sendo considerado o maior mamífero aquático da Bacia Amazônica. Sua pele é lisa e de espessura grossa, com coloração variando de cinza escuro ao preto além de possuir uma mancha branca em sua região ventral, e, ao contrário do peixe-boi-marinho, não possui unhas em suas nadadeiras peitorais.

O peixe-boi-da-Amazônia é um mamífero aquático herbívoro: consome apenas algas, aguapés e capim aquático e alimenta-se principalmente na época chuvosa, pois é quando há maior disponibilidade dessas plantas. Pode passar até oito horas se alimentando, podendo chegar a consumir 10% de seu peso por dia. Dessa forma, a energia é armazenada em forma de gordura com o objetivo de suprir as necessidades fisiológicas durante a estação seca. No período de chuvas escassas, o animal desloca-se dos igarapés, onde normalmente vive sozinho, para os grandes rios, aos quais obtém um convívio social. Com isso, são considerados animais essencialmente solitários e moderadamente sociais, cujas aglomerações foram observadas durante o acasalamento em refúgios de águas mais quentes.

Existem estudos em que os peixes-bois possuem um repertório sonoro variável de acordo com a idade e comportamentos específicos, ou seja, a taxa de vocalizações varia de acordo com o comportamento apresentado pelos indivíduos, aumentando quando há contato social. Ademais, por se tratar de um mamífero, esse táxon necessita ir à superfície da água para respirar, normalmente em intervalos de cinco minutos porém, pode ficar submerso até 25 minutos quando está dormindo. Entretanto, a capacidade reprodutiva deste animal é limitada devido ao seu longo período reprodutivo, já que cada gestação possui duração de 13 meses, gerando apenas um filhote e com cuidado materno intenso. Assim, uma fêmea procria a cada quatro anos, o que prejudica bastante a conservação da espécie.

Somado a isso, o peixe-boi-amazônico é constantemente ameaçado pela prática da caça, por ser um animal considerado dócil e despertar grande interesse devido sua carne e óleo, além da degradação de seu habitat decorrente dos desmatamentos, assoreamento nas margens e construções de hidrelétricas. Cerca de 80 a 140 mil peixes-bois foram abatidos entre os anos de 1935 e 1954, sem considerar a caça de subsistência, que ainda é comum. A utilização crescente de redes de espera aumentou os registros de captura acidental de filhotes, sendo uma real ameaça para a espécie: suspeita-se de um declínio populacional de, no mínimo, 30% ao longo de três gerações. Dessa forma, a espécie é categorizada como Vulnerável (VU).

Tendo em vista esses fatores, o projeto coordenado pelo Centro Nacional de Pesquisa e Conservação da Biodiversidade Amazônica (Cepam/ICMBio) e o Instituto de Pesquisas Ecológicas (Ipê) intitulado “Peixe-boi-amazônico: Pesquisa e Conservação no Mosaico de Unidades de Conservação do Baixo Rio Negro/AM”, teve como objetivo mapear as áreas de uso e alimentação do mamífero e monitorar a qualidade da água nos lagos da região estudada, já que é uma espécie de difícil observação e dados de abundância e densidade confiáveis são inexistentes. Além disso, desenvolvido em parceria com o Centro de Mamíferos Aquáticos (CMA/ICMBio, a Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e o Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (IDSM), o projeto também realiza ações de educação ambiental na região de Novo Airão, no Amazonas.

Por fim, houve a execução do Plano de Ação Nacional para Conservação de Sirênios (2010-2015) que teve como objetivo geral aumentar o conhecimento do status de conservação do peixe-boi-amazônico e combater a retirada de espécimes da natureza, e melhorar o status de conservação do peixe-boi-marinho. Das 38 ações para o T. inunguis, 39% foram concluídas e 61% não foram concluídas. As estratégias de conservação para as duas espécies estão sendo reformuladas. Dessa forma, é de extrema importância os estudos do comportamento dos sirênios, para análises de informações, elaboração de estratégias de manejo da espécie que contribua para a conservação desses animais.


Aluna: Débora Aroeira Mueller



Referências Bibliográficas

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ATTADEMO, F. L. N. et al. Comportamento de Peixes-bois - Guia Ilustrado. Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Brasília, 2020. 1-48. Disponivel em: <https://www.icmbio.gov.br/portal/images/stories/comunicacao/publicacoes/guia_comportamento_de_peixes_bois__icmbio.pdf>. Acesso em: Janeiro 2021.

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WWF BRASIL. Peixe-boi-da-Amazônia: cantor vegetariano. WWF Brasil. Disponivel em: <https://www.wwf.org.br/natureza_brasileira/especiais/biodiversidade/especie_do_mes/marco_peixe_boi_da_amazonia/>. Acesso em: Janeiro 2021.



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